sexta-feira, 8 de abril de 2011

Das Tentações...

"Pelo livre arbítrio, o homem tem sempre possibilidade de optar pelo mal, e a isso o impelem o clamor das paixões desregradas, que fervilham na alma após o primeiro pecado, bem como as tentações dos espíritos malignos. ""Vigiai e orai para não cairdes em tentação"", exorta Jesus,""pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca"" (Mt 26,41)."

Da revista "Arautos do Evangelho" - janeiro 2011, pág 05.

Todas as religiões antigas tem por objetivo a formação do caráter humano através de sobrepujar nosso lado irracional e instintivo pela nossa consciência racional e moral. É a eterna luta do nosso Superego com o nosso ID, ou subconsciente, representado pelas figuras do pequeno anjo e do diabinho que ora nos orienta a fazer o mal, ora a fazer o bem. Os átrios dos templos da antiguidade traziam sempre a inscrição: "Conhece-te a ti mesmo". Deste conhecimento, nasce o domínio de si mesmo e do nosso lado irracional, o que nos torna sociávies e humanos; tornamo-nos realmente "Filhos de Deus".

Acredito que esse domínio seja o que falta tanto no mundo atual, onde as "paixões" tem seu trono. Os Homens tornaram-se seus escravos, servos que são do materialismo, acúmulo de bens e apelos instintivos da natureza animal. O mundo se tornou palco de cenas de egoísmo, violência, prazer desregrado alimentado pela sociedade de consumo e sua propaganda apelativa. 

O filme "Duna", de David Lynch (1984), tem uma cena curiosa: a Reverenda Madre vai fazer um teste com o aristocrata Paul Altreides (Kyle MacLachlan), que se tornará o Muad'Di. O teste consiste em colocar a mão direita em uma caixa e não poder tirá-la, sob pena de ser injetado com o Gom jabbar, um veneno poderosíssimo. Paul pergunta para a reverenda: "O que tem nesta caixa?", ao que ela responde: "Dor!". E acrescenta: "Vamos saber se você é um filhote de animal ou se é um humano". Naturalmente, Altreides passa no teste. Sua consciência venceu seus apelos instintivos.

Temos um lado animal, irracional, selvagem, mas também temos nosso lado espiritual e divino. Nosso aspecto humano é o campo de batalha onde estas duas facetas se colidem. No final, o lado que receber mais atenção será o vencedor. O que nos separa dos demais seres vivos é a nossa capacidade de dominar nosso lado irracional em prol do bem estar comum e dos valores universiais.  Tal é base da Ética nos tempos de Platão e Aristóteles. Assim disse Buda quando nos ensinou a nos libertarmos de nossas paixões e desejos. Tal é o que nos ensina o Cristo na passagem transcrita acima.